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O Terrível Bonachão

Era uma vez um terrível bonachão. Ele entrou numa cidade como quem não quer nada, disfarçado de autoridade e começou a causar confusão. Seu objetivo era claro: promover a discórdia, usurpar o direito, violar a vida em todos os sentidos. O motivo: sempre quis ter um brinquedo que seu papai achava muito caro e não pôde comprar. Por isso, começou a usar as pessoas como brinquedos para se realizar. Suas ameaças se espalhavam invisivelmente, ninguém suspeitava de sua ação. Depois que ele fazia tudo, disfarçava com um sorriso satisfeito, uma risada de piada e ninguém desconfiava que tinha envolvimento seu no mal feito. Ainda falava apontando o dedo e dizia, eu avisei, para todo mundo ficar sem ação.


As coisas cada vez pioravam mais de todos os lados e ninguém mais sabia o que fazer. O bonachão continuava atacando e ninguém imaginava que era ele o tempo todo, que ainda saía estufando o peito, com pose de super-herói que só fazia o bem para ajudar. Então, alguém começou a investigar, ficar bem atento para ver o que estava acontecendo. Falou com todo mundo para fazer o mesmo. Ficar de olhos bem abertos e prestar atenção no que cada um estava fazendo, para onde ía, o que comia, com quem falava e onde dormia.


O bonachão que era sabichão, percebeu que algo estava acontecendo e ficou ressabiado, mas não tinha coragem de perguntar para ninguém ficar alerta de sua culpa enviesada. Então, sem saber começou a fazer o mesmo que todo mundo já tinha começado a fazer. Ficava de olho no que cada um fazia, para onde ía, o que comia, com quem falava e onde dormia.


O tempo passou e nada de apanhar o sujeito. O bonachão ainda não tinha descoberto qual era o plano do povo direito. Até que algo estranho aconteceu. Um galo subiu no telhado da igreja e começou a cantar todos os dias às seis da manhã. O povo ficou chocado e incomodado com aquela situação, pois estava acostumado a acordar às sete, sem nenhuma perturbação. Todos começaram a planejar como pegar aquele galo e dar um sumiço. O problema é que o galo subia lá bem alto, onde poucos tinham coragem de subir. Nem sabiam como alguém tinha construído algo tão alto daquele jeito naquela cidade.


Então, curiosamente todos resolveram chamar o bonachão. Já estavam cansados dele rindo de todo mundo, falando que já tinha avisado e com pose de quem sabia de tudo. Afinal, era ele o super-herói da cidade (que não salvava ninguém, diga-se de passagem). Por isso, assim o povo decidiu, agora ele teria que salvar todo mundo do galo maldito, com o perdão da palavra.


Bonachão se viu em apuros, não gostava de alturas, sempre desequilibrava e caía em qualquer momento de distração. Ainda assim, não podia dizer que não ao povo, senão seria visto como um covardão, um cara de pastel, que tinha negado aquele favor que todo mundo precisava. Iria perder toda a reputação. Então, foi obrigado a subir. Começou aos poucos, foi subindo subindo. Cada vez que subia um pouco, se lembrava de uma malandragem que tinha aprontado com o povo. O frio subia na barriga. Ele não se aguentava de tanto medo. Sentia que ia cair a qualquer segundo, mas o povo todo estava lá embaixo, gritando entusiasmado e torcendo: “Vai, bonachão. Você consegue, amigão.”


Subiu, subiu. Devagar e sempre. Até que conseguiu. Chegou lá no alto. Agora o difícil era pegar o galo e levar para baixo. Pensou até em lhe dar um chute e jogá-lo para baixo, mas não sabia quem era o dono. Poderia arrumar confusão. Foi chegando perto do galo, como quem não quer nada e lhe deu um forte abraço. Segurou forte no braço esquerdo e o galou cantou um cocoricó, que mais pareceu um “Socorro”.


Bonachão estava feliz e a multidão toda aplaudindo pelo gesto do terrível bonachão, que tinha subido sozinho lá no alto da igreja. Porém, o pior aconteceu. Bonachão desequilibrou-se em um breve momento de júbilo, distração e caiu lá do alto. Ninguém sabia como essa tragédia podia ter acontecido. Coitadinho, todo mundo pensou. Enquanto ele rolava telhado abaixo com o galo na mão, se esgoelando de susto.


A população já pensava no enterro e no canto fúnebre, mas um milagre aconteceu. Bonachão caiu em cima de um arbusto bem macio, que amorteceu a queda e evitou que ele virasse um presunto de salão. Até o galo saiu ileso. Com a maior cara de assustado do mundo, se escapuliu ciscando o chão.


A gentaça em polvorosa veio em cima do grandalhão cumprimentar seu grande feito e começou a comemoração que ia durar uma semana de festa por um simples galo no telhado que caiu no chão. E assim, Bonachão aprendeu a lição. Percebeu que brincar com a vida sempre acaba em acidente e por isso nunca mais ameaçou a população. Começou a cuidar de todos e respeitar o espaço de cada um, com muita colaboração.

 
 
 

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